NA LUZ DA VERDADE (Edição de 1931)


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68. Espécies de clarividência

Por longo tempo hesitei em responder às diversas perguntas sobre clarividência, porque cada ser humano, que houver lido direito a minha Mensagem do Graal, tem de estar perfeitamente informado a tal respeito. Pressuposto, naturalmente, que não tenha lido a Mensagem como mera leitura, como passatempo ou com preconceitos, mas nela tenha se aprofundado seriamente e tenha considerado importante cada frase, cujo profundo sentido em si, bem como o facto de ela pertencer incondicionalmente a toda a Mensagem, ele ao menos tem de se esforçar em investigar; pois assim é desejado de antemão.

Nisso, o espírito tem de estar desperto. Pessoas superficiais devem, dessa maneira, ser automaticamente excluídas.

Repeti várias vezes que uma espécie só pode ser reconhecida sempre pela mesma espécie. Por essas espécies entende-se naturalmente espécies da Criação.

Visto de baixo para cima, existe a espécie de matéria grosseira, a espécie de matéria fina, a espécie do enteal e, como mais elevada, a espécie do espiritual. Cada uma dessas espécies subdivide-se, por sua vez, em muitos degraus, de modo a existir facilmente o perigo de confundir os degraus finos da matéria grosseira com os degraus grosseiros da matéria fina. Praticamente imperceptíveis são as transições, as quais nos efeitos e fenómenos não são acaso firmemente unidas, pelo contrário, apenas se engrenam umas nas outras.

Em cada um desses degraus manifesta-se vida de espécie diversa. O ser humano dispõe de um invólucro de cada espécie da Criação que se encontra abaixo do espiritual. O núcleo em si é espiritual. Cada invólucro equivale a um corpo. O ser humano é, portanto, um núcleo espiritual, que no desenvolvimento da autoconsciência adquire forma humana, a qual, com o desenvolvimento contínuo rumo à Luz, torna-se cada vez mais ideal até a mais perfeita beleza, com um desenvolvimento para baixo, porém, adquire cada vez mais o contrário disso, até as deformações mais grotescas. A fim de excluir aqui qualquer equívoco, quero mencionar especialmente que o invólucro de matéria grosseira ou corpo não passa por esse desenvolvimento. Apenas tem de cooperar durante curto período e, no plano terreno de matéria grosseira, pode estar sujeito somente a bem reduzidas variações.

O ser humano na face da Terra, isto é, na matéria grosseira, traz consigo os invólucros de todas as espécies da Criação ao mesmo tempo. Cada invólucro, portanto, cada corpo das diversas espécies, tem também seus próprios órgãos sensoriais. Os órgãos de matéria grosseira, por exemplo, podem actuar na mesma espécie, isto é, na espécie de matéria grosseira. Um desenvolvimento mais refinado nisso dá, no caso mais favorável, a possibilidade de conseguir ver até um certo grau da matéria grosseira mais fina.

Essa matéria grosseira mais fina é denominada “astral” pelas pessoas que com ela se ocupam, um conceito, aliás, que na verdade nem é conhecido direito por aqueles que criaram essa expressão, muito menos ainda pelos que a repetem. Aplico essa terminologia conceitual por já ser conhecida. Aliás, essa denominação vale, como é usual em pesquisas ocultistas, apenas como uma espécie de conceito colectivo de tudo aquilo que se conhece, sim, e que se pressente como existente, mas que ainda não se pode compreender direito, e menos ainda fundamentar. Todo o querer saber dos ocultistas, até agora formulado, nada mais é do que um grande labirinto de ignorância criado por eles próprios, um monte de entulho de arrogâncias do raciocinar intelectivo, insuficiente para tais coisas. Não obstante, quero ficar com a designação “astral”, tão usada. No entanto, o que os seres humanos vêem e entendem como “astral” não pertence sequer à matéria fina, mas tão-somente à fina matéria grosseira.

Os pesquisadores imbuídos de ilusões humanas ainda nem saíram das paragens da matéria grosseira, mas sim permaneceram na espécie mais inferior da Criação posterior, e fazem por isso tanto alarde com estrangeirismos os mais “soantes” possíveis! Nem sequer enxergam com os olhos de matéria fina, mas tão-somente com a intuição de transição dos olhos de matéria grosseira para os de matéria fina. Poder-se-ia chamar isso de uma visão adquirida mediante exercício ou semivisão.

Quando uma pessoa se desfaz do corpo de matéria grosseira pela morte terrena, são abandonados com isso, naturalmente, também os órgãos sensoriais da matéria grosseira, porque eles pertencem exclusivamente ao respectivo invólucro. A morte terrena não é outra coisa, portanto, do que o abandono do invólucro mais externo ou casca, que lhe possibilitava ver e agir na matéria grosseira. Logo depois desse despir, encontra-se ela no assim chamado outro mundo ou, melhor falando, nas planícies da matéria fina. Aqui poderá, novamente, apenas agir com os órgãos sensoriais do corpo de matéria fina, que agora lhe ficou como casca mais externa. Vê, por conseguinte, com os olhos do corpo de matéria fina, ouve com os ouvidos deste, etc.

É natural que o espírito humano, ao entrar na matéria fina, precise aprender a servir-se adequadamente dos órgãos sensoriais do invólucro de matéria fina, que são assim de repente obrigados a entrar em funcionamento, como antes os órgãos do corpo grosso-material na matéria grosseira. Correspondendo à materialidade de espécie diferente, não tão pesada, a aprendizagem da utilização correta dos órgãos ocorre também de modo mais rápido, mais leve. E assim é com cada espécie seguinte.

A fim de facilitar esse se aclimatar nas diferentes espécies, é dada a visão de transição ou semivisão dos planos intermediários. Os olhos de matéria grosseira conseguem, com certos esforços, através de estados extraordinários do corpo, ver, pressentindo, o plano de interligação entre a matéria grosseira e a matéria fina, ao passo que o olho de matéria fina, no início de suas actividades, alcança retrospectivamente também o mesmo plano de modo semivisual, onde a parte fina da matéria grosseira toca a parte grossa da matéria fina. Essa semivisão dá ao espírito humano um certo apoio durante seu transitar, de modo que nunca precisa se sentir completamente perdido. Assim ocorre em cada limite entre duas espécies diferentes. Para que as duas espécies diferentes de matéria possam manter-se interligadas e não formem acaso um abismo, por jamais poderem se misturar, encarregam-se ondas de forças enteais que, com sua capacidade de atracção magnética, actuam prendendo e unindo.

Após passar pelos diversos sectores da matéria fina, deixando também o corpo fino-material, o ser humano entra na entealidade. Restou-lhe então o corpo enteal como invólucro mais externo, através de cujos olhos tem agora de olhar e através de cujos ouvidos tem de ouvir, até que lhe seja possível também deixar os invólucros enteais e ingressar no reino do espírito. Somente aqui ele é unicamente ele mesmo, sem invólucros, e tem de ver, ouvir, falar, etc., com seus órgãos espirituais.

Estas minhas explicações devem ser analisadas rigorosamente pelos leitores, a fim de que possam fazer para si uma imagem correcta disso. Materializações de pessoas terrenalmente falecidas não são mais do que fenómenos onde, através da utilização de um médium, os falecidos terrenalmente, que portam o corpo de matéria fina, cobrem-se ainda com um invólucro da fina matéria grosseira. Essa seria, provavelmente, a única excepção onde as criaturas humanas terrenas de hoje seriam capazes de ver uma vez nitidamente a fina matéria grosseira com seus olhos de matéria grosseira e também abrangê-la com seus outros sentidos de matéria grosseira. Eles podem isso, porque, não obstante toda a subtileza, trata-se sempre ainda da mesma espécie de seus órgãos sensoriais, portanto, ainda de matéria grosseira.

Portanto, o ser humano deve atentar que a matéria grosseira só pode ser “percebida” pela matéria grosseira, a matéria fina só pela matéria fina, o que é enteal só pelo que é enteal e o que é espiritual só pelo que é espiritual. Nisso não há misturas.

Há, porém, uma coisa: uma criatura humana terrena pode ver, aqui e acolá, com os olhos de matéria grosseira e durante sua existência terrena também já abrir seus olhos de matéria fina, pelo menos temporariamente. Isto é, não acaso ao mesmo tempo, mas consecutivamente. Quando vê com os olhos de matéria fina, os olhos de matéria grosseira permanecem fora de acção, totalmente ou em parte, e vice-versa. Jamais estará apto a ver direito com os olhos de matéria grosseira aquilo que é realmente de matéria fina, tampouco com os olhos de matéria fina o que seja de matéria grosseira. Isto é impossível. Afirmações contrárias basear-se-iam apenas em erros decorrentes do desconhecimento das leis da Criação. São ilusões, às quais tais pessoas se submetem, quando afirmam poder reconhecer com os olhos de matéria grosseira o que é de matéria fina, ou com os olhos de matéria fina o que é espiritual.

Quem considera direito tudo isso procura ter uma noção clara, reconhecerá que confusão indescritível tem de existir agora no julgamento sobre a clarividência, que até fica impossível conseguir-se informações seguras a respeito, enquanto não forem dadas a conhecer as leis sobre isso, o que não pode ocorrer através de inspirações ou manifestações em círculos espíritas, uma vez que os que se acham no Além, inspirando e também se manifestando, não possuem, eles mesmos, uma visão geral, mas sim, cada um tem de mover-se sempre nos limites aos quais pertence o seu respectivo estado de maturidade.

Uma autêntica ordem nos esclarecimentos do maravilhoso tecido da Criação posterior só pode ser dada quando um saber abranger tudo. Do contrário é impossível. As criaturas humanas, porém, em seu conhecido e doentio querer ser sábias, jamais reconhecem tal, mas desde logo se opõem hostilmente aos esclarecimentos.

Preferem prosseguir pavoneando-se em suas medíocres pesquisas e, justamente por isso, jamais podem chegar a uma concordância, jamais a um resultado real. Se apenas uma vez mostrassem uma grandeza tal e, ao vencer sua presunção, tomassem realmente a sério a Mensagem do Graal como esclarecimento universal, sem preconceitos, excluindo dos estudos todo o querer saber próprio, abrir-se-lhes-iam logo perspectivas que, em consequência lógica, esclarecem todos os fenómenos incompreendidos e aplainam com grande ímpeto os caminhos para o até então desconhecido.

Contudo, já é conhecido que justamente a teimosia é apenas um dos mais infalíveis sinais de verdadeira estupidez e estreiteza. Todas essas pessoas nem supõem que exactamente com isso imprimem em si o sinal de sua absoluta inutilidade, o qual já em tempo próximo as queimará de maneira vergonhosa e excludente, porque então não poderá mais ser escondido ou negado.

Para o julgamento de uma clarividência devia ser conhecido, como base, com que olhos o clarividente vê de cada vez, a que região, portanto, pertence a sua vidência e até que ponto ele está desenvolvido neste sentido. Só então outras conclusões podem ser tiradas. Nisso, quem dirige tais investigações devia, pessoalmente, de modo absoluto, estar bem claramente informado a respeito de cada degrau das diferentes espécies, bem como a respeito do efeito variado e da actuação que aí se desencadeiam. E disso sofre a época de hoje, onde exactamente aquelas pessoas se julgam instruídas, que em geral nada entendem.

É lastimável ler a avalanche de publicações em folhetos e livros sobre toda a sorte de observações e experimentos ocultistas, com tentativas de esclarecimento mais ou menos ilógicas e insustentáveis, que, na maioria dos casos, ainda recebem arrogantemente impresso o carimbo de certo saber, enquanto que eles, sem excepção, não somente ficam longe dos factos, mas até trazem o contrário. E como o bando de tais inteligências se encoleriza hostilmente, quando, em singela sequência, é-lhes apresentada a estruturação da Criação posterior, sem cujo conhecimento exacto, em geral, nada poderão compreender. Da Criação primordial aqui nem queremos falar.

Quem quiser julgar ou mesmo condenar clarividentes tem de conhecer a Criação toda, conhecer realmente! Enquanto esse não for o caso, também deve se calar a tal respeito. Tampouco, porém, também como defensores fervorosos dos factos da clarividência, fazer afirmações que, sem o conhecimento exacto da Criação, não podem ser comprovadas. Tão nefastos erros são propagados a respeito de todos os fenómenos fora da matéria grosseira, que urge, finalmente, introduzir ordem e conformidade com a lei. Felizmente já não está mais distante o tempo em que uma varredura sadia será feita entre as inúmeras figuras, ridículas até, nos campos ocultistas em si tão sérios, as quais, sim, como se sabe, mais gritam e são as mais importunas com suas teorias. Pena é que exactamente esses tagarelas, através de sua conduta, já tenham extraviado muitos dentre os que procuram. A responsabilidade disso, contudo, não tardará e recairá com terrível força sobre todos aqueles que procuram tratar desses mais sérios domínios tão levianamente, mas os desencaminhados e enganados dessa forma pouco lucrarão com isso, mas eles próprios terão igualmente de sofrer o prejuízo por terem se deixado conduzir tão facilmente a acepções erradas. Em geral, pode-se calmamente afirmar que exactamente no campo ocultista, por enquanto, o tagarelar ainda é designado com a bela expressão “pesquisar”, sendo, por conseguinte, a maioria dos pesquisadores apenas tagarelas.

Entre os clarividentes existe, portanto, uma visão da fina matéria grosseira, uma visão da matéria fina e uma visão da entealidade. Tudo isso com os respectivos olhos de igual espécie. Uma visão espiritual permaneceu, no entanto, vedada aos seres humanos, pois para isso devia ser um especialmente convocado, que é agraciado para uma determinada finalidade, para que possa abrir também seus olhos espirituais já na existência terrena.

Entre esses, porém, não se encontram os inúmeros clarividentes actuais. A maioria, aliás, consegue apenas reconhecer a matéria fina em um de seus vários degraus e, com o tempo, talvez abranger também mais degraus. São-lhes abertos, portanto, os olhos de matéria fina. Raras vezes apenas, ocorre que os olhos do corpo enteal também enxerguem.

Se, pois, em ocorrências terrenas especiais, como, por exemplo, em casos de crimes ou outros, deva ser utilizada uma pessoa clarividente para fins de esclarecimento, então o interessado nisso precisa saber do seguinte: o clarividente vê com seus olhos de matéria fina, não podendo, portanto, ver o próprio acontecimento de matéria grosseira que ocorreu. Cada acontecimento de matéria grosseira, contudo, tem ao mesmo tempo seus fenómenos simultâneos de matéria fina, que são muitas vezes idênticos às ocorrências de matéria grosseira ou, pelo menos, semelhantes. Portanto, o clarividente verá, na prática de um assassínio, o fenómeno de matéria fina que ocorreu ao mesmo tempo, não o real de matéria grosseira, que é unicamente decisivo para a justiça, segundo as leis terrenas hoje vigentes. Esse acontecimento de matéria fina, porém, pode em alguns pormenores desviar-se mais ou menos do acontecimento de matéria grosseira. É, por conseguinte, errado falar prematuramente de falhanço da clarividência ou de uma visão errónea.

Continuemos, pois, com um assassínio ou roubo. O clarividente, chamado para o esclarecimento, verá em parte de modo astral, em parte de modo fino-material. De modo astral, portanto, na fina matéria grosseira, o local da ocorrência, de modo fino-material, porém, a própria acção. Advém ainda que pode ver aí também diversas formas de pensamento originadas no curso dos pensamentos do assassino bem como do assassinado ou do ladrão. Distinguir isso deve fazer parte da capacidade de quem dirige as investigações! Só então o resultado será certo. Mas, por enquanto, ainda não existe um dirigente de investigações assim instruído. Por mais grotesco que possa soar, em virtude de não possuir na realidade a mínima analogia, quero citar, no entanto, um exemplo secundário referente à actividade de um cão policial, que também é utilizado, sim, na elucidação de crimes. Com referência a esses cães policiais, evidentemente, quem os conduz deve conhecer de maneira exacta o modo de actuação do cão e junto com ele trabalhar de modo directo, cooperando até mui activamente, como é do conhecimento dos iniciados. Precisa-se imaginar, pois, essa maneira de trabalhar apenas de forma muito mais enobrecida, temos então a actividade do trabalho conjunto de um dirigente de investigações e de um clarividente para a elucidação de crimes. Também aqui o dirigente de investigações deve ser quem trabalha activamente e quem calcula observando e quem assume a maior parte da actividade, enquanto que o clarividente continuará apenas como auxiliar, trabalhando passivamente. Para cada juiz deve preceder um longo estudo de tal actividade, antes que possa a isso se dedicar. É um estudo muito mais difícil do que a jurisprudência.

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Actualização mais recente desta página: 4 de Março de 2020